A proposta de extinção do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), com sua incorporação em uma superpasta que unirá também de Finanças e Planejamento, divide a opinião das indústrias química e de plásticos brasileiras. Enquanto que a primeira é visto como um erro a decisão do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), o setor de plásticos, avalia, com reservas, que a vantagem do superministério, que será liderado pelo economista Paulo Guedes, é reduzir a distância entre a indústria e o poder de tomada de decisões.
Para ambos os setores, no entanto, é preciso defender a indústria local e parar o processo de desindustrialização em curso há décadas. “O papel do Mdic é o de aprofundar os estudos e a avaliação da indústria, como o fazem outros países. É um erro extinguir”, disse o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, o benefício da nova pasta será justamente aproximar a indústria do homem forte para questões operacionais do governo. “Quanto mais perto do centro da tomada de decisões, melhor. Isso tende a ser bom, desde que a indústria tenha um papel preponderante nos planos do governo”, afirma.
Tanto a Abiquim quanto Abiplast receberam com ponderação a fala do futuro ministro sobre os industriais brasileiros – “vamos salvar a indústria, apesar de os industriais”, referindo-se, em tom crítico às solicitações de protecionismo, o lobby e as subvenções. “Ele acerta no diagnóstico da desindustrialização, mas errou e não foi claro sobre os industriais. Ao falar isso, você está generalizando e seria bom que se possa qualificar-se”, diz Roriz. Para o presidente da Abiplast, a indústria não precisa de subsídios, mas de competitividade. “O tratamento deve ser isonômico em relação aos países com os quais a indústria compete”, defende.
Para Figueiredo, da Abiquim, Guedes vai ao encontro dos pleitos da indústria quando se fala em desburocratização, a reforma fiscal e a abertura comercial gradual. “Isso é o que a indústria sempre quis. Mas a frase sobre os industriais, cria um sentimento de ódio desnecessário”, afirma o executivo, que acredita em uma falta de jogo de cintura em contato com a imprensa, que a má vontade do futuro ministro com os empresários. Para Figueiredo, o novo governo tem que organizar o discurso e evitar desencontros nos discursos e propostas de seus futuros membros. “Jair Bolsonaro precisa mostrar que de fato é o comandante. Não pode ocorrer de cada um falar uma coisa, porque, então, não é o equipamento. É cada um pensar pela sua própria cabeça”, afirma.
Na avaliação do presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), Nelson Mussolini, o mais importante é ter um líder, que vai garantir uma interlocução clara com o governo que a combinação em si, as pastas. “Pouco importa se vamos ter que falar com um ou dois ministros. O que precisamos é de interlocução clara e transparente”, disse o executivo. Há casos, como o presidente, em que a conversa com o governo flui melhor no segundo ou terceiro nível, dependendo do líder da pasta.
A indústria farmacêutica se espera que o novo governo tenha a visão de que o capital privado é bem-vindo, e que será tratado de forma legalista. Além disso, o setor não defende os subsídios diretos e avalia que o lobby, transparente e dentro das regras, pode ajudar o governo a incentivar o desenvolvimento da indústria. Para o presidente da Associação latino-americana de Aço (Alacero), Jefferson de Paula, não há maiores problemas nas declarações de Paulo Guedes sobre o papel da indústria no país e as demandas dos representantes do setor. “As grandes siderúrgicas do Brasil são multinacionais, estamos acostumados a isso, esse é o papel do governo, [fazer] as regras.
Se o governo tem a inteligência e a abertura suficiente para entender que o Brasil, como está não é produtivo, se entende isso e monta um plano, eu não tenho nenhuma dúvida de que os empresários vão aceitar bem, e vão contribuir. Ninguém gosta de ir lá pedir para aumentar o imposto de importação”, disse Jefferson de Paula. O representante da associação diz que Guedes tem uma visão diferente da atual administração federal, a defesa da redução de impostos e um modelo liberal. Jefferson é a favor dessa visão, mas defende um maior equilíbrio entre os países. ‘Eu não gosto de salvaguardas e antidumping, mas é um mal necessário. Há países em que a indústria siderúrgica é estatal, se ganha dinheiro ou não se dá na mesma. Como competir com isso? Não podemos ser inocentes de abrir o Brasil, o México ou a Argentina e competir com empresas que são apoiadas pelo governo”, defende o presidente da Alacero.
Fonte: Jornal Valor Econômico
Fonte: panoramafarmaceutico.com.br/2018/11/01/revogação do mdic-divide-liderancas-a-indústria