Pacientes superam o câncer, mas depois enfrentam outro desafio: a volta ao trabalho ” Panorama Farmacêutico – Imã de geladeira e Gráfica Mavicle-Promo

As novas terapias contra o câncer têm aumentado a sobrevida dos pacientes e, em muitos casos, levado a cura da doença, mas, ao mesmo tempo, muitas pessoas enfrentam dificuldades para retornar ao mercado de trabalho ou permanecer nele.

 

Nos últimos anos, vários estudos internacionais procuram entender os obstáculos envolvidos nesta retomada, importante, não só economicamente, mas também do ponto de vista emocional, porque simboliza a superação da doença e a volta à rotina.

 

No Brasil, uma nova pesquisa realizada em Enfermagem (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo) revela que a taxa de retorno ao trabalho das mulheres após dois anos do diagnóstico de câncer de mama é de 60%. Nos Estados Unidos e na Europa, chega a superar os 80%.

 

Segundo o estudo, a falta de ajustes no ambiente de trabalho, condição necessária para que o paciente possa fazer frente aos efeitos adversos do tratamento ou ter tempo para os exames e consultas, foi o principal fator de saída do emprego: apenas 29% das pacientes que participaram da pesquisa permitiram que este tipo de medidas de flexibilização.

 

Antes do diagnóstico do câncer, 81% das pacientes entrevistadas tinham um trabalho a tempo completo.

“As mulheres que receberam ajustes em função tiveram 37 vezes mais chances de voltar ao trabalho”, afirma o oncologista Luciana Landeiro, do Grupo Oncoclínicas e autora da pesquisa, desenvolvida como tese de doutorado na USP.

 

Foi o que aconteceu com a monitora Márcia Divino, 44, que voltou ao trabalho em uma escola infantil de pouco mais de um ano após o diagnóstico de câncer de mama, em março de 2017.

 

Ela passou pela retirada da mama esquerda (mastectomia). O tratamento incluiu esvaziamento das glândulas da axila, quimioterapia e 25 sessões de radioterapia para o final.

 

“No início, eu estava um pouco inseguro para voltar a trabalhar, porque eu perdi um pouco a mobilidade do braço. Eu pensei: ‘como vou pegar a criança no colo, colocar e retirar a familiar, escolar?’ Mas funcionou, e até ganhei mais de alongamento, voltando a trabalhar”.

 

Marcia também conseguiu definições no dia-a-dia de trabalho. Quando tem que ir a consultas médicas ou exames, por exemplo, altera o horário de entrada. “Só falto mesmo quando não há nenhuma maneira.”

 

O estudo apontou outros fatores associados à saída do trabalho. As mulheres que receberam duas ou mais salários mínimos ou que tenham passado por uma cirurgia que conserva a maior parte possível da mama tiveram mais chances de ser reinseridas no trabalho do que as que recebiam menos do que isso, ou que retiraram toda a mama.

 

“As mulheres que ganham mais, às vezes têm cargos que facilitam os ajustes durante ou depois do tratamento. Elas também têm perspectiva de ascensão na carreira”, explica Landeiro.

 

Embora a pesquisa brasileira foi restrito aos pacientes com câncer de mama, o tumor mais comum nas mulheres, a questão do retorno ao trabalho não se limita a ele.

 

“Há uma literatura internacional muito ampla lista de impactos de outros tipos de câncer na volta ao trabalho, como o de próstata e o de intestino. Temos projetos para localizar tumores e aqui também”, diz a médica.

 

De acordo com Rodrigo Muñoz, oncologista do Hospital Sírio-Libanês, entre os pacientes com sarcoma, que geralmente afeta pessoas jovens e que passam por uma cirurgia que podem resultar em
amputação de membros do corpo, este dilema da volta ao trabalho é frequente.

 

“Na semana passada atendi três pacientes com esta queixa. Enfrentaram o tratamento, mas agora, no final, se sentem deprimidos, não podem voltar ao trabalho e às atividades que antes lhe davam prazer.”

 

Em muitos casos, a químio e a radioterapia também pode causar danos às funções cognitivas. “Até agora, o nosso olhar é meio míope para estas questões que, cada vez mais, ganham importância, já que mais pessoas estão sobrevivendo ao câncer.”

 

O tema também vem sendo discutido na Câmara dos Deputados, que analisa o projeto de lei já aprovado no Senado, que visa garantir a estabilidade no emprego ao trabalhador que se afasta para o tratamento de câncer.

 

Hoje não existe uma lei que garanta a proteção, mas o Tribunal Superior do Trabalho foi orientado juízes e tribunais do trabalho a ser considerado discriminatório o despedimento de funcionários com doença grave que suscite estigma ou preconceito.

 

De acordo com a psicóloga Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia, há doentes que preferem se aposentar por invalidez, estando aptos para o trabalho. Muitos, no entanto, sofrem por não poder voltar a entrar no mercado de trabalho ou por não ter o mesmo desempenho anterior em razão das sequelas do tratamento.

 

“Depende muito de como era antes da doença, de como era a relação com o chefe, se a pessoa gosta ou não do trabalho. Mas, de uma forma geral, é muito importante que essa volta para a pessoa sentir-se ativa, ter espaço para desenvolver-se e seguir a vida da forma mais normal possível”.

 

Uma pesquisa realizada em 2018 pela Associação Brasileira de Recursos Humanos e a Go All (movimento em prol do acesso aos tratamentos oncológicos) investigou a forma como as empresas lidam com o câncer.

 

O estudo mostrou que os funcionários entrevistados têm um alto grau de confiança em suas empresas (73% acreditam que o apoiariam em caso de câncer e apenas 11% temem ser demitidos). Mas 67% dos empresários relataram preocupação com as dificuldades para oferecer esse apoio, especialmente no que diz respeito à reinserção dos sobreviventes.

 

Para o oncologista Luiz Paulo Kowalski, professor da USP e diretor do departamento de cabeça e pescoço do A. C. Camargo Cancer Center, da extensão das sequelas deixadas pela doença é um fator determinante para a volta ao trabalho.

 

“Os tumores da tiróide, a separação é temporária e depois que a pessoa continua na vida profissional sem muita alteração. Mas os cânceres de boca e da laringe, que podem causar mutilações, perda da fala e da deglutição, o impacto é muito maior”, diz.

 

No passado, de acordo com o médico, esse tipo de câncer atinge as pessoas de mais idade, que já estavam aposentadas ou em vias de se aposentar. A doença geralmente estava associada ao uso de tabaco e álcool.

 

Nos últimos anos, no entanto, cada vez mais jovens foram diagnosticados com tumores, agora relacionados com a infecção pelo HPV (vírus do papiloma humano).

 

“O impacto no trael foi maior, embora muitos possam alterar suas funções, mudando, por exemplo, para cargos que não exigem falar com o público. Quanto maior é o nível socioeconômico, mais fácil essas adaptações.”

Fonte: Jornal Folha de S. Paulo

Fonte: panoramafarmaceutico.com.br/2019/04/08/pacientes-superam-cancer-mas-depois-enfrentam-outro-desafio-a-volta-ao-trabalho

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